Técnica de maturação estimula produção de banana e gera renda para famílias de assentamento em Córrego Rico (SP)

Fruta é vendida para prefeitura e usada na merenda escolar do município; Outros vegetais são vendidos em feira de orgânicos.

Por João Victor Betioli*

Produtores rurais do assentamento de Córrego Rico, distrito de Jaboticabal (SP), encontraram no uso de maturadores uma forma de garantir a qualidade e a venda de bananas para a merenda escolar da cidade. A técnica contribui para geração de renda das famílias, que dependem da agricultura familiar para subsistência.

Resultado de reforma agrária ao fim da década de 1990, o assentamento abriga hoje 47 famílias. Em um território dominado pela produção de cana-de-açúcar, elas contribuem com a diversidade na produção. Os pequenos produtores cultivam legumes, verduras e frutas de forma orgânica, ou seja, sem uso de agrotóxicos. A banana representa a principal produção.

Cachos de banana verde produzidos no sítio de Dirceu Pipoli. (Foto: Dirceu Pipoli)

Desde 2021, o produtor Dirceu Pipoli é fornecedor de banana da prefeitura de Jaboticabal, que compra 25% de sua produção para reforçar a merenda nas escolas municipais. Pipoli tem 2.500 pés de banana nanica plantados, em uma área de seis hectares e meio, onde também produz outros vegetais como milho, vagem e pepino japonês.

Segundo ele, o maturador ajuda a acelerar a produção. A estiagem prolongada na região, baixa umidade do ar e insetos dificultam o desenvolvimento da fruta. O processo natural de maturação da banana demora nove meses para ser concluído, com irrigação artificial. “A maturação natural gera muita perda e o produto tem que ser consumido rapidamente. Em um ou dois dias, já está tudo caindo e amarelando. A gente é obrigado a vender logo”, disse.

O equipamento de maturação surgiu como uma alternativa ao produtor. O sistema utiliza uma caixa d’água de mil litros, acoplada a um aparelho gerador de vapor de etileno – hormônio que atua no amadurecimento dos frutos. A caixa comporta 250 kg de banana, já higienizados previamente.

O processo dura 12 horas e é feito geralmente à noite, de acordo com Pipoli. “Depois que as frutas são retiradas da caixa, com mais cinco horas elas já estão boas. E aguentam entre seis e oito dias boas para o consumo”, disse.

Produtor rural Dirceu Pipoli em sua plantação de bananas, em Córrego Rico. (Foto: Dirceu Pipoli)

O investimento custou R$ 2.600. Hoje, o produtor colhe entre 350 e 400 cachos por mês. Em média, cada um pode chegar a pesar 30 quilos. A parceria com o município rende R$ 3.300 mensais à família de Pipoli. “Ajuda muito, porque eu não tenho aposentadoria. Essa venda pra merenda é boa”.

Com o uso da técnica do maturador, o produtor pretende dobrar a produção em breve. “Para o pequeno agricultor e para a agricultura familiar, é bom. Com ele, a banana madura e eu vendo mais rápido”, afirma Pipoli.

Alimenta Brasil

A venda garantida de 25% da produção faz parte do programa do governo federal Alimenta Brasil, regulamentado há quase dois anos. A ação, executada por municípios, prevê a compra de alimentos de agricultores familiares, extrativistas, pescadores artesanais, povos indígenas e demais populações tradicionais, como forma de ampliar o acesso à alimentação e incentivar a produção.

O assentamento também conta com a Associação das Mulheres Agricultoras Familiares do Assentamento de Córrego Rico (AMAAR), composto por 14 agricultoras. Em 2022, elas foram responsáveis por entregar cinco mil quilos de hortaliças e frutas para a secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social, por meio do Alimenta Brasil. A venda dos produtos, de acordo com a Câmara dos Vereadores, segue tabela do Conab. O valor é dividido igualmente entre as produtoras.

Sustentabilidade e geração de renda

Por serem orgânicos, os produtores usam métodos alternativos no combate às pragas. De acordo com Marita Silva, produtora rural, o uso da palha é um deles. “Você joga palha do milho, folha da jaca e junta pra fazer esterco. Aqui no sítio a gente faz um produto que os insetos não gostam”, disse.

Segundo Silva, isso traz equilíbrio ecológico e promove mais adaptabilidade ao espaço de produção, tanto para o controle de doenças quanto para a diminuição dos efeitos do aquecimento global.

“Aqui tem goiaba, banana, limão, jaca, alface, couve, almeirão e escarola. Também temos plantas medicinais, como hortelã, alecrim. Mas quando começamos a plantar, há muitos anos, era bem complicado e difícil, porque era tudo manual e a produção era bem pouca”, disse.

O que não vai para a prefeitura é vendido em uma feira de orgânicos, criada em outubro de 2022 pelo Sindicato Rural, em conjunto com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e o Sebrae.

Gerador de gás etileno, equipamento utilizado na maturação da fruta. (Foto: Dirceu Pipoli)

A comercialização de verduras, frutas e legumes produzidos no assentamento é feita na Praça Dom Assis, centro de Jaboticabal, e atrai 120 pessoas toda semana.

O Senar ofereceu curso de precificação, embalagem, estratégias de venda e socialização com os clientes para os produtores. A qualificação também tratou de temas como demanda e oferta, margem de lucro, análise de mercado e mercado internacional.

A coordenadora da instituição, Fernanda Revolti, afirma que o treinamento foi capaz de dar autonomia para os assentados. “Fizemos o acompanhamento das seis primeiras feiras. Mostramos a eles [produtores] que dá certo e é uma ótima forma de complementação de renda”, disse Revolti.

*João Victor Betioli é estudante da 6ª etapa do curso de jornalismo do Centro Universitário Barão de Mauá – Ribeirão Preto (SP)