Transtornos mentais entre universitários se tornam comuns diante da pressão acadêmica

Para Alessandra Henrique, estudante de psicologia que atende no Centro Universitário Barão de Mauá, mudança de rotina e afastamento da família tornam período acadêmico um momento de maior vulnerabilidade

Por Anna Júlia Giove e Maria Clara dos Reis

Pressão por desempenho, dificuldades financeiras e a incerteza sobre o futuro profissional têm afetado cada vez mais a saúde mental dos universitários brasileiros. Um estudo do Global Student Survey aponta que 87% deles sofrem com sintomas de ansiedade, depressão ou burnout.

O relatório também indica que esse cenário surge de ambientes acadêmicos e um mercado de trabalho altamente competitivos, além de uma vida social que se torna fonte constante de tensão.

Outras pesquisas recentes reforçam o alerta. Um estudo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) com 6.371 calouros de 12 universidades mostrou que 54,4% apresentam sintomas de depressão e que alunos com hábitos pouco saudáveis têm até três vezes mais risco de desenvolver o transtorno.

Já o Estudo Nacional de Saúde Mental nas Universidades (Enasam-U), realizado em 50 instituições públicas do país, aponta que muitos estudantes relatam falta de apoio emocional dentro das próprias universidades.

Para Alessandra Henrique, estudante de psicologia que acompanha de perto a rotina dos estudantes no Centro Universitário Barão de Mauá, o impacto das novas responsabilidades e a distância do ambiente familiar costumam intensificar a sensação de fragilidade emocional nessa fase.

Ela explica que muitos estudantes chegam à universidade já carregando inseguranças, e a pressão por resultados, somada ao medo de não corresponder às expectativas, intensifica quadros de ansiedade e depressão, especialmente entre aqueles que se mudam de cidade para estudar.

“Os sinais geralmente começam com insônia, irritabilidade, falta de disposição e dificuldade de concentração. Quando o estudante percebe que não consegue mais lidar com essas situações, é hora de buscar ajuda profissional”, orienta.

Alessandra também observa um aumento constante no número de jovens em busca de atendimento psicológico. Para ela, isso acontece porque o desequilíbrio emocional, quando ignorado, pode evoluir para transtornos mais graves.

Para a universitária Júlia Reginato, o apoio de amigos e o acesso a acompanhamento psicológico dentro da instituição são fundamentais para lidar com as dificuldades. “No começo eu pensava em desistir todos os dias, mas com o tempo encontrei pessoas com quem me identifiquei e isso fez toda a diferença”, relata.

O mesmo acontece com Júlia Almeida, de 22 anos, que compartilha a percepção sobre a pressão dentro das salas de aula. Estudante de Pedagogia e Nutrição, ela afirma que o ambiente acadêmico, muitas vezes, agrava o cansaço emocional.

“Há uma expectativa constante de ser produtivo e corresponder à imagem de sucesso que a faculdade quer passar”, comenta.

Para ela, ações simples, como palestras e projetos sobre saúde mental, poderiam ajudar a transformar a rotina estudantil em algo mais saudável.