Mulheres avançam no automobilismo, mas seguem minoria entre pilotos

Apesar de não haver impedimento nos regulamentos, poucas mulheres conseguem alcançar a Fórmula 1 e outras categorias de elite

Por Júlia Mendes Pereira

Grande parte dos pilotos de Fórmula 1 (F1) inicia no kart na infância. Segundo estudo feito pela organização More Than Equal, apenas 13% dos pilotos de kart são mulheres, o que limita a descoberta de talentos femininos, visto que poucas estão nas categorias de base.

De acordo com a regulamentação, mulheres podem pilotar, mas, na história, poucas conseguiram se classificar. Em 75 anos, duas tiveram sucesso: Maria Teresa de Filippis, na década de 1950, e Lella Lombardi, na década de 1970. As equipes de Fórmula 1 têm, em suas academias de pilotos, algumas mulheres. De acordo com informações divulgadas no site da F1 Academy, as 10 equipes reafirmaram seu compromisso em apoiar e patrocinar uma piloto da categoria em uma parceria plurianual.

Lavinia Amaral, de 21 anos, piloto de kart desde os 6, conta que já ouviu falas machistas até mesmo de outros pilotos. “É nojento, cruel e com certeza desanimador”, afirma. A piloto conta que ficou chateada com a declaração do ex-chefe de equipe da Oracle Red Bull Racing, Christian Horner, em 2022, sobre mulheres começarem a se interessar pelo automobilismo por conta de pilotos bonitos. O CEO do Grande Prêmio de São Paulo, Alan Adler, em entrevista ao Globo Esporte, disse que a porcentagem de mulheres que acompanham automobilismo atualmente chega a 37%, quase dobrando o público feminino de 2021.

Ela contou, ainda, que tem um projeto chamado Italian Karting Experience, que incentiva mulheres e homens no esporte, proporcionando treinos de alto nível com técnicos italianos, acesso a pistas homologadas pela Federação Internacional de Automobilismo (FIA), análises de dados e estratégias. Assim, os participantes se aproximam do nível profissional. “O meu objetivo é trazer igualdade e cada vez mais pessoas para o esporte, além de mostrar que o automobilismo não acaba somente na Fórmula 1.”

A W Series, que era um campeonato exclusivamente feminino e que infelizmente faliu por falta de patrocínio, e a F1 Academy, categoria surgida em 2023 para mulheres pilotos e que acompanha a Fórmula 1 em alguns finais de semana do ano, são projetos que incentivam a participação feminina no automobilismo.

Andrey Valerio, chefe de equipe da LLCA Racing, também comentou sobre o machismo que circula dentro dos kartódromos e autódromos. Ele afirma que o esporte não deveria ser definido por gênero, mas que existe uma diferença de tratamento. “Existe muito machismo fundado em conceitos errados e conclusões precipitadas”, diz. Segundo a organização More Than Equal, as mulheres representam apenas 10% entre todas as categorias do automobilismo; a porcentagem cai para 7% em categorias de Fórmula e GT e diminui para 4% nas principais categorias do esporte.

Valerio explicou o que faria para mudar o cenário: “Apoiaria mais mulheres que pilotam, mas não faria algo que as distanciasse dos homens. Afinal, isso, ao meu ver, somente cria mais dificuldade no acesso das mulheres ao esporte.”

O chefe de equipe também falou sobre as marcas que não querem patrocinar mulheres dentro do esporte. “A falta de patrocínio afeta qualquer um para iniciar uma carreira no automobilismo, porque as marcas estão mais preocupadas com categorias mais altas. Penso que, para mulheres, seja sim até mais complexo”, conta. Segundo estudo da More Than Equal, são poucos os patrocinadores que apostam na carreira de uma mulher no automobilismo.

Andrey revelou que, em sua equipe, todos são tratados com igualdade, independentemente do gênero. “Posso dizer, com base na minha equipe, que todos recebem o mesmo tratamento e o mesmo feedback. Obviamente, os melhores serão mais cobrados por terem potencial para fazer ainda mais, independentemente de gênero.”

Ele ainda falou sobre o número de homens em comparação às mulheres nas categorias de base: “Felizmente, hoje em dia, o número de meninas vem crescendo, mas acredito que seja por conta dos próprios pais, que possam pensar que aquilo não seja um esporte para garotas.” Ele afirma acreditar que é possível ter uma nova geração de mulheres em breve em outras categorias do automobilismo e do motociclismo.