Do lixo ao luxo: Discos de Vinis Viram Arte

Amor pela arte fez com que radialista de Ribeirão Preto reutilizasse discos que seriam jogados fora

Renan Rosa

O disco vinil foi por muito tempo uma saída para os amantes da música. Em uma época onde precisava esperar o rádio tocar aquela música favorita, comprar o disco e escutar a canção que tanto gostava na hora que quisesse era uma grande saída.

Alguns anos se passaram, vieram o Disquete, o CD, o pen drive e o streaming. Ouvir música nunca foi tão fácil. O disco foi deixado de lado e muitos acabaram indo parar no lixo. Também conhecido como vinil, ou para os mais profissionais, LP (Longy Play), o disco foi desenvolvido no final do ano de 1940.

O disco possui várias ranhuras em formato espiralada.O áudio dele é rodado através de uma gravação analógica, e podem ser ouvidas quando uma agulha, que fica no toca-discos, vibra ao passar pelas ranhuras, transformando a vibração em sinal elétrico, que é amplificado e transformado na música.

Tendo como matéria prima o petróleo, se mantido de forma sustentável, sua decomposição demora cerca de 500 anos. Caso ele seja descartado na natureza de forma irregular, a decomposição demora muito mais.

Foi pensando nisso, que o radialista de Ribeirão Preto, e amante dos discos de vinil, André Luís Souza, mais conhecido na cidade como Bodão, pensou em como ele poderia reaproveitar os discos vinis que ele tinha, mas já não funcionavam mais.

Pensando primeiramente no meio ambiente, Bodão começou a se questionar quais possibilidades estavam à disposição dele. “Eu pensei, ‘eu não posso jogar fora’, vou fazer alguma coisa que venha ser útil para manter ele guardado, e aí foi a ideia de criar o desenho, de criar uma maneira de fazer a arte no vinil”, diz.

Mesmo tendo a ideia, Bodão esbarrou na falta de informação de como ele faria os desenhos no disco. “Eu nunca soube como fazer. Qual tipo de ferramenta que eu usava, qual tipo de material que eu usaria para fazer o desenho. Então isso tudo eu desenvolvi sozinho”, explica.

Com uma maquinha parecida com as de dentista e com a ajuda de umas broquinhas finas, ele pega o desenho que quer fazer no disco e adapta o desenho em um programa que tem no computador. Nesse programa, tem a medida exata de um vinil, facilitando o processo. Depois, ele imprime a imagem e passa o desenho para o disco com uma caneta branca e vai contornando com a maquinha.

Tudo isso teve início em 2016, em um lugar que ele carinhosamente chamou de cantinho, na Avenida Caramuru, uma das mais movimentadas de Ribeirão Preto. O local era utilizado pelo filho dele, que é DJ, para guardar alguns equipamentos.

Ele ficava ali concertando algumas coisas, como por exemplo, um cabo que quebrava. E foi ali que ele começou a fazer os primeiros vinis. “Eu estraguei alguns vinis meus, até eu achar a técnica”, lembra.

O serviço começou a ser reconhecido depois que ele começou a trazer alguns discos e pendurar nas do laboratório de rádio do Centro Universitário Barão de Mauá. Os alunos viam e começavam a fazer encomendas.

Com o sucesso dos pedidos, das vendas e com mais pessoas conhecendo o seu trabalho, o que antes era apenas um cantinho que ele ficava aprimorando suas técnicas, virou uma loja física. “É engraçado que antes era o lugar onde meu filho guardava as coisinhas dele, hoje graças a Deus, é uma loja bem bacaninha, chamada Disco Riscado”, disse.

O nome da loja é um trocadinho que foi criado junto com o amigo dele, o Quico, que é artista plástico. Em relação ao preço, Bodão lembra que no começo, por não ter uma noção de arte, cobrava cerca de R$ 20,00. “As pessoas perguntavam quanto custava, eu falava e elas falavam que era muito barato o preço. Ai no fim, hoje, tem um custo de R$ 60,00 para cima”, ressalta.

E não é só para Ribeirão Preto que as vendas são feitas. Com o sucesso da loja física, uma loja virtual foi criada e hoje as artes dele são vendidas para todo o país. As criações deixaram de ser apenas nos disco. “Hoje eu faço qualquer desenho. Eu transformo o desenho em um relógio se precisar. Faço agendas com capa dura. Porta copos e até mosaicos”, disse.

E o sucesso é tanto, que os principais veículos de comunicação de Ribeirão Preto procuraram ele para fazer várias entrevistas que renderam vários compartilhamentos nas redes sociais. Com isso, um grande shopping de Ribeirão Preto o convidou para mostrar para toda a população o seu talento.

O Disco Riscado que começou como uma loja física, passou para uma loja virtual, hoje possui uma exposição no Ribeirão Shopping. E os detalhes você confere no vídeo abaixo.