A missão de um jornalista

Por Laura Scarpelini*/Fotos Airton Gonzaga

“Lá bem no alto do décimo segundo andar do ano, vive uma louca chamada esperança, e ela pensa que quando todas as sirenas, todas as buzinas, todos os reco-recos tocarem, atira-se” Mario Quintana

Este poema traduz a minha experiência como jornalista voluntária na 17ª edição do projeto Voluntários do Sertão, que realiza uma maratona de atendimentos médicos, odontológicos, pequenas cirurgias e palestras no interior da Bahia, que este ano aconteceu de 15 ao dia 23 de abril, na cidade de Irecê (BA). Em cinco dias de trabalho o grupo realizou 46.508 atendimentos. Esse número é, aproximadamente, 15% maior do que o estimado pela organização.

Ser jornalista no Voluntários do Sertão é dar voz as “almas” das pessoas.  Foram observações transformadoras, com relatos do cotidiano de brasileiros que vivem em situações precárias.  Neste Brasil tão grande, milhares de famílias são esquecidas no sertão da Bahia sem saneamento básico, sem alimentos, sem água e sem infraestrutura. Gente que precisa ser ouvida e necessita de atendimentos básicos de saúde.

Ser jornalista é fantástico, mas ser jornalista voluntária é enriquecedor. Com certeza, não sou a Laura de semanas anteriores, pois são nestes lugares que damos valor a nossa vida, a nossa casa, a nossa família e, principalmente, a nossa realidade.

O alívio de um atendimento

Dentre os vários problemas, o acesso à saúde é uma grande dificuldade e a vinda de médicos e dentistas é um acontecimento na vida dessas pessoas. É o caso da Maria do Socorro Souza, de 60 anos. Ela esperava por uma consulta médica há oito meses por meio da secretaria de saúde de Irecê- BA. “Fui atendida pelos Voluntários e imediatamente fiz os exames necessários, além de conseguir a minha consulta com o ortopedista, que estava esperando por tanto tempo. Nunca vi uma coisa assim, porque a saúde é precária na cidade”, conta.Depois de receber o cuidado e carinho dos médicos, dona Maria diz que se sente aliviada. “Eu estou flutuando de alegria, pois a população nunca tinha visto coisa parecida com este tipo de atendimento, como receber a consulta, fazer os exames e ainda pegar o medicamento de graça”, destaca.

No sertão da Bahia é muito grande o número de pessoas com problema de cegueira, em virtude de catarata. Sendo assim, as cirurgias de catarata são as mais procuradas pela população. Aos 55 anos, dona Nailda foi diagnosticada com a doença nos dois olhos. “Eu estava necessitando da cirurgia, mas não tinha condições financeiras para fazer. Graças a este projeto, pude resolver a minha situação nos olhos”, afirma. Além de realizar a cirurgia de catarata, dona Nailda ganhou atendimentos odontológicos e dermatológicos. “Aproveitei todos os atendimentos e estou muito satisfeita”, conclui.

Voluntários

Para organização do mutirão são necessárias muitas mãos voluntárias, como a do dentista Rogerio Azevedo, que participa do projeto há três anos. “Cada edição para mim tem sido diferente, pois tem uma emoção nova. O mais gratificante do Voluntários do Sertão é poder atender a população carente e devolver a autoestima das pessoas que perderam seus dentes”, comenta.

 

 


 

* Laura é ex-aluna de jornalismo da Barão, e publicou matérias em veículos de comunicação da cidade sobre o projeto Voluntários do Sertão.