Shows sertanejos investem em experiência para driblar concorrência

Por Guilherme Moro e Yago Perdigão

Por trás de um palco iluminado, há mais do que holofotes.  Há uma disputa silenciosa, mas feroz: por atenção, por tempo, por desejo. Em tempos de ingressos a preços altos e agendas apertadas, a música sozinha já não carrega mais o espetáculo, segundo Matheus Calil, fundador do Viola Show, um dos maiores escritórios de entretenimento do mercado sertanejo.

Com mais de duas décadas de estrada, Calil viu a engrenagem parar por dois anos, durante a pandemia. Mesmo após cinco anos, o mercado dos shows ainda sente na pele a reconfiguração de prioridades no setor, impactando no bolso de quem compra os ingressos e de quem paga pelos shows.

“O nosso segmento de entretenimento ficou parado por dois anos. Fomos o primeiro a parar e o último a voltar, ainda gradativamente. O pós-pandemia ainda teve um efeito de saudade, nostalgia, o que ocasionou em um boom no retorno em 2022. Mas os custos aumentaram muito. Tanto artísticos quanto operacionais. O público também ficou ainda mais exigente, quer entretenimento de qualidade”, afirma ele.

A exigência por experiências completas, imersivas e memoráveis, virou palavra de ordem para quem quer se manter competitivo. Agora os fãs escolhem com mais critério onde gastar seu dinheiro e seu tempo. Querem ativações criativas, espaços instagramáveis, conforto, exclusividade, emoção. Querem sentir que aquele momento valeu cada segundo fora da rotina.

No sertanejo, isso se traduz em camarotes que viraram experiências sensoriais, áreas VIP com curadoria gastronômica, tecnologia para evitar filas, iluminação pensada para emocionar e claro, artistas que ocupam o topo dos parados de sucesso. Para fazer a conta fechar é preciso conhecer os bastidores do business da música.

Ouça o episódio do podcast Por Trás da Coxia, com Matheus Calil, sobre o backstage do mercado:

E para sentir na pele o que vivem os apaixonados por esse universo, assista o vídeo Minha Vida Daria um Show:

Se a experiência é maior, o investimento também. Por trás das luzes e dos grandes palcos, existe também a matemática dura dos prejuízos, dos riscos calculados, dos aprendizados que só a prática — e os tombos — ensina. Manter um evento de pé requer gestão, paciência e uma boa dose de resiliência. Mesmo os eventos mais bem-sucedidos passam por edições desafiadoras, marcadas por fatores externos, clima, logística ou até instabilidade política. E ainda assim, quando o espetáculo é bem construído, ele deixa raízes.

“Sempre tem eventos que passam por desafios e prejuízos. Fazemos reuniões, análises, para que os pontos fracos sejam resolvidos nos anos seguintes. Mas por onde a gente passa, a cidade nos espera no ano seguinte, com continuidade, ano a ano, independente das trocas dos prefeitos”, diz Calil, reforçando o papel quase institucional que grandes produções assumem no calendário cultural de muitos municípios.