Segundo o estudo realizado pelo Supera Parque de Tecnologia e Inovação, esse foi o maior aumento nos últimos cinco anos.
Por Tauany Ferreira
O mapeamento da Região Metropolitana de Ribeirão Preto, estudo realizado pelo Supera Parque de Inovação e Tecnologia, registrou um aumento médio de 34% entre os anos de 2019 e 2023. Somente no ano passado, o crescimento foi de 10% em startups voltadas para o agronegócio, o que corresponde a quatro novos empreendimentos.
Atualmente, mais de 20 agritechs operam no parque, desenvolvendo tecnologia para agricultura de precisão, produtos biológicos e plataformas digitais. “É impressionante o número de empresas que surgem visando atender a problemas e demandas específicas que normalmente os grandes sistemas de gestão agrícola não conseguem alcançar”, disse Melina Cais, responsável pelo relacionamento com o mercado no Supera Parque.
A By My Cell, uma agritech de Ribeirão Preto fundada em 2021, é uma plataforma genômica voltada para biotecnologia. Ela recebe amostras de solo de produtores, empresas de biológicos e consultores que buscam melhorar o manejo agrícola ou entender melhor as condições do solo. Por meio da análise das amostras, são identificadas características como a quantidade de bactérias, fungos e outros microrganismos presentes. “A agritech está associada a uma tecnologia ou ao desenvolvimento para acabar com aquela dor. Não significa que você vai deixar uma tecnologia ou você vai substituir uma mão de obra”, afirma Stela Virgilio, CEO da startup.
Análise de amostra de solo. Foto: Stela Virgilio
Além da análise, a empresa oferece uma plataforma chamada By My Soil, que fornece um relatório detalhado das amostras analisadas. O cliente consegue acessar informações com a porcentagem através de um sistema de cores, dos microrganismos patogênicos, que são aqueles que causam doenças, e os benéficos, que ajudam no controle biológico de pragas. A plataforma também recomenda produtos que o cliente pode utilizar para melhorar suas plantações. “O que vai sair no aplicativo são os microrganismos que nós encontramos ali”, afirma Virgilio.
Em Altinópolis, o produtor rural e agrônomo Guilherme Yuri decidiu interromper o cultivo de milho ao perceber que o território da propriedade não era muito propício para este grão. Hoje, ele se dedica à produção de pequenas hortaliças e à criação de galinhas caipiras. “Nosso tipo de solo já teve milho, mas ele é muito fraco e não compensava o custo benefício de adubação ou de tratamento na colheita”, comenta.
Para identificar o problema, o agrônomo coletou amostras e enviou a um laboratório, onde descobriu que o terreno estava infértil. “O solo estava muito degradado. Muitos pequenos produtores ficam distantes disso. Eles vão muito pelo improviso porque falta acesso a esse tipo de recurso”, afirma Yuri.
Outra startup é a Hope Kphé, focada no setor cafeeiro, que desenvolveu o primeiro equipamento de classificação e qualificação de grãos de café, garantindo que estejam prontos para exportação. O CEO, Carlos Baltieri, atuou durante 30 anos no desenvolvimento de equipes para a Color Sorter Machine, uma selecionadora eletrônica de grãos que analisa tamanho, densidade e colorimetria.
Realização da classificação e qualificação dos grãos de café. Foto: Tauany Ferreira
O equipamento da startup realiza a classificação e qualificação a partir de uma amostra de 100 gramas — uma tarefa que, tradicionalmente, é feita manualmente por um operador. O produtor também consegue avaliar se a colheita está atendendo à produtividade esperada. Dessa forma, ele consegue estimar antecipadamente a precificação de cada lote, já que a classificação é orientada pela qualidade dos grãos.
Amostra de 100 gramas no equipamento. Foto: Tauany Ferreira
O processo envolve a coleta de imagens, o gerenciamento dos dados e, por fim, a aplicação das classificações por peso. “A proposta do projeto é trazer um equipamento que não substitui o posto de trabalho, mas sim essa ação. Em vez de a pessoa gastar de 5 a 15 minutos na classificação, ela apenas coloca os grãos no sistema”, explica Baltieri.
As agritechs surgem para solucionar problemas identificados pelos produtores, que estão em contato diário com suas plantações e criações, onde reconhecem as necessidades do setor e buscam resolvê-las de maneira prática e direta, sem recorrer a fundamentos técnicos. “Essas tecnologias dependem bastante da aceitação do produtor. Mas eu percebo que a maioria das ideias, na verdade, vêm do próprio produtor”, destaca Juan Lopes, doutor em Ciências do Solo.
Para Lopes, a agricultura é marcada pela fragmentação e diversidade de práticas, o que cria tanto desafios quanto oportunidades para a inovação. De acordo com o pesquisador, em uma das propriedades, por exemplo, o proprietário pode adotar práticas de conservação de solo, focando na proteção do ambiente e na aplicação de técnicas sustentáveis. Em contrapartida, na propriedade vizinha, é comum encontrar um perfil mais explorador, com pouca ou nenhuma preocupação com o solo.
“Sempre há algo a ser melhorado, mesmo em práticas já bem estabelecidas. E essa evolução pode, às vezes, ser uma simples reposição ou um refinamento”, observa Lopes.