Cinema independente ganha espaço em Ribeirão Preto e atrai atenção em festivais

Produções do diretor ribeirão-pretano Gabriel Silva Mendeleh ampliam a presença do audiovisual local em mostras e premiações pelo país

Por Brenda Stefany e João Santana

Nos últimos anos, o cinema de Ribeirão Preto tem ganhado visibilidade com o fortalecimento de cursos, coletivos culturais e a participação crescente de produções locais em festivais nacionais e internacionais. Iniciativas como o ProAC (Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo), responsável por financiar projetos artísticos por meio de editais e incentivo via ICMS, têm contribuído para esse avanço.

De acordo com a Fundação Getulio Vargas (FGV), os investimentos do programa geram impactos econômicos e sociais, movimentam a cadeia produtiva da cultura, criam empregos e oferecem condições para que produções independentes encontrem recursos para execução, ampliando a presença do cinema local no cenário nacional.

Entre os representantes desse movimento está o diretor Gabriel Silva Mendeleh. Sua obra mais recente, “Maurina: O Outono que Não Acabou”, se destacou por revisitar a história de Madre Maurina, única freira presa e torturada durante a Ditadura Militar, e por promover debates públicos sobre o tema após as exibições. O documentário também obteve reconhecimento internacional, com premiações no Festival de Cinema Independente de Sevilha.

Produzido entre 2020 e 2021, o filme revisita a trajetória de Madre Maurina Borges da Silveira, detida em 1969 sob acusação de envolvimento com a FALN (Forças Armadas de Libertação Nacional). O documentário reúne entrevistas com ex-presos políticos, historiadores, jornalistas, religiosos e o advogado da freira, além de arquivos e reconstituições dramatizadas. A narrativa acompanha o período em que ela atuou no Lar Santana, em Ribeirão Preto, até o exílio no México, em 1970. Para o professor de audiovisual Eduardo Martins, trabalhos desse tipo ajudam a recuperar registros que poderiam não receber atenção sem a atuação de cineastas da região.

“O Outono que Não Acabou” circulou por países como Espanha, Portugal, Estados Unidos, Itália, Índia e Moldávia. No Festival de Cinema Independente de Sevilha (SEVIFF), venceu as categorias de Melhor Documentário, Melhor Diretor e Melhor Diretor Estreante. A produção também recebeu reconhecimento no Golden Eagle International Film Festival, no Docs Without Borders Film Festival e no Naples Films Awards.

Segundo a pesquisadora Belisa Ribeiro, da Universidade de São Paulo (USP), o cinema produzido fora dos grandes centros se fortalece com políticas de fomento e com a ampliação de redes de profissionais que desenvolvem obras a partir de seus próprios contextos.

Ribeirão Preto também tem atraído filmagens, como cenas do longa “Mal Nosso”, de Samuel Galli, e registra o aumento de produções independentes e universitárias. Filmes como “Divino Amor” (Gabriel Mascaro), “São Ateu” (Hiro Ishikawa) e “O Agente Secreto” (Kleber Mendonça Filho) são apontados pelo diretor como referências para compreender o desenvolvimento do cinema feito fora dos grandes polos do audiovisual. Para Mendeleh, a cidade reúne profissionais, histórias e estrutura, mas depende da continuidade de políticas públicas para manter o ritmo de crescimento.

Com premiações, circulação internacional e novas iniciativas de formação, o audiovisual de Ribeirão Preto vive um período de expansão. As produções dirigidas por Mendeleh mostram que o cinema realizado na região tem ampliado sua presença em festivais e reforçado a representação do interior paulista no cenário nacional e internacional.