Desempenho, resultados e medo de falhar pesam mais no exterior; psicólogo destaca importância de cuidado humanizado
Por Caroline de Azevedo Castão

Éder Militão, jogador do Real Madrid e da Seleção Brasileira, concedeu entrevista ao Jornal da Barão
Segundo a FIFA, mais de 2.350 jogadores brasileiros foram transferidos para o exterior em 2024. Os atletas que assumem o desafio devem lidar com novas culturas, alimentação e idioma. O processo de adaptação é um dos obstáculos para quem deixa o Brasil em busca de carreira internacional.
A chegada ao futebol europeu também exigiu mudanças dentro de campo. O jogador Éder Militão, transferido em 2019 para o Real Madrid, lembra que a velocidade e a intensidade do jogo foram um desafio imediato. “Quando cheguei do Brasil para o Porto, parecia que eu nem sabia jogar bola direito. O futebol lá é mais rápido e muito mais dinâmico”, diz.
Com o tempo, ele aprendeu a lidar não só com o estilo de jogo, mas também com a preparação para partidas importantes. “O principal é saber que estamos nos esforçando ao máximo. Conversar com os companheiros, confiar no plano do treinador e ter fé ajudam muito nos jogos decisivos”, afirmou.
O zagueiro, que também integra a Seleção Brasileira, revela que seu maior adversário é ele mesmo. Para ele, a fé e o contato com quem ama são fundamentais para manter o foco e o equilíbrio no dia a dia e nas partidas. “Sempre fui muito família, e ver a minha filha, esposa e meus pais é essencial. É daí que tiro minhas energias”, destaca.
Militão segue transformando cada desafio em aprendizado para continuar vivendo o sonho de representar o país, o que, para ele, é motivo de orgulho. Ele lembra que, em sua época, o futebol cobrava força e coragem, mas sem o suporte emocional existente hoje.
“Quando eu comecei, o acompanhamento psicológico não existia. Era tudo na raça, com fé e coragem”, afirmou. Mesmo tendo passado por mudanças de clube, cobrança por resultados e uma lesão que o afastou por quase oito meses, Edvaldo diz que aprendeu a enfrentar as dificuldades sozinho, algo que mudou totalmente com a nova geração.

Éder Militão e o pai Edvaldo Militão Fonte: arquivo pessoal
Ele acompanhou de perto o início da carreira do filho, especialmente no período em que Militão estava no Real Madrid e enfrentou momentos de desânimo.
“A gente deu bastante força para ele. Já vivi muita coisa no futebol e fiz de tudo para que ele não passasse pelas mesmas situações.”
Para o pai, o fator mental é decisivo no desempenho de qualquer jogador. “Você pode estar bem fisicamente, mas se a cabeça não estiver legal, não rende. Eu vivi isso na minha carreira.”
Edvaldo ainda destaca que o futebol atual exige mais maturidade do que no passado. Segundo ele, os jogadores hoje enfrentam uma cobrança muito maior, exposição constante e vigilância por todos os lados.
“Na minha época o jogo era mais agressivo, mas hoje tem câmera para todo lado. O jogador precisa estar preparado para isso.” Para ele, a principal lição para um jovem atleta é simples: não ter medo. “Se ficar inibido, não consegue jogar. Tem que encarar como gente grande desde cedo.”

Edvaldo Militão, pai de Éder Militão e ex-jogador do Comercial
Assim como Militão, muitos jovens lidam com pressões que vão além da parte física. Segundo o psicólogo esportivo Renato Melo, é essencial tratar o jogador como ser humano em primeiro lugar, já que fatores emocionais e mentais influenciam diretamente o rendimento. Ele ressalta a importância de olhar com cuidado para esses indivíduos, que, apesar de viverem o sonho de muitos, ainda estão em fase de crescimento e amadurecimento.
“Respeitar cada etapa da vida é muito importante para se tornar o que busca. Valorizar e viver cada dia desse processo é essencial para fazer bom uso do tempo e encontrar a verdadeira felicidade”, afirma Melo.
O psicólogo explica que a família influencia diretamente o comportamento dos atletas, já que muitos jovens acabam reproduzindo “bagagens” trazidas de casa para o clube. Segundo ele, quando a postura familiar acompanha as orientações do time, o atleta evolui; quando não acompanha, pode atrapalhar. Por isso, manter comunicação clara é essencial, pois muitos têm vínculo forte com os pais e precisam aprender a equilibrar esse afeto com a postura profissional.
Melo afirma que o acompanhamento psicológico é uma necessidade básica. “O atendimento psicológico é dignidade humana, é o que permite viver com qualidade e entender as próprias emoções”, explica.
Ele utiliza técnicas de respiração, visualização, relaxamento e exercícios de foco para ajudar os jogadores a desacelerar e lidar com a pressão. Para ele, inteligência emocional significa aceitar os sentimentos e encontrar estratégias para administrá-los sem perder o rendimento. No fim, como destaca Melo, é o equilíbrio que sustenta a trajetória de um atleta. Entre família, treino e autoconhecimento, nasce a força que faz diferença dentro do campo.