Apostas online disparam no Brasil e acendem alerta para saúde mental

Por Arthur Mica, Matheus Pischiottin, Pedro Narente e Walter Costa

Em 2024, cerca de 25 milhões de brasileiros realizaram apostas online, movimentando aproximadamente 20 bilhões de reais por mês, segundo dados do Banco Central. Esse fenômeno, presente em todo o país e popular entre jovens e adultos, gera um impacto direto no cérebro. Estudos da Universidade de Cambridge e do Instituto Nacional sobre Abuso de Drogas dos EUA apontam que as apostas liberam dopamina, o hormônio do prazer, criando um ciclo viciante semelhante ao das drogas. O que antes era apenas diversão, hoje se tornou um problema crescente de saúde mental e emocional.

A origem desse hábito remonta ao século XIX, no Rio de Janeiro, quando o barão João Batista Viana Drummond criou o jogo do bicho para atrair visitantes ao zoológico. A prática evoluiu, atravessou gerações e ganhou novas formas com a chegada das plataformas digitais, que atraem públicos de todas as idades com promessas de dinheiro rápido e fácil.

A ascensão das apostas no formato atual tem alcançado os mais diversos públicos, entre eles, jovens estudantes que enxergam nessa prática uma oportunidade de obter renda extra. Essa realidade fica evidenciada entre alguns alunos do Centro Universitário Barão de Mauá, entrevistados para o vídeo a seguir:

O uso das apostas como fonte de renda extra cresce diariamente. Os relatos desses jovens revelam como o ambiente acadêmico também é impactado pelo avanço desse mercado.

Além disso, especialistas discutem o tema com mais profundidade no podcast Apostando Vidas, que aborda as apostas online, os riscos e impactos desse meio na vida de tantos brasileiros:

Os estudos científicos enxergam essa expansão como reflexo de uma cultura histórica que romantiza o lucro fácil, mas que, na era digital, se transforma em um problema silencioso. As apostas não apenas oferecem prêmios, mas também acionam mecanismos cerebrais que geram prazer mesmo diante de perdas, alimentando a ilusão de estar sempre perto de ganhar.

Veja também o infográfico abaixo, que demonstra o crescimento das casas de apostas no Brasil.

Mais do que uma tendência passageira, as apostas online se consolidaram como parte do cotidiano de muitos jovens brasileiros. Nas universidades, é possível notar como o tema circula com naturalidade. Termos como “red” e “green”, se fazem cada vez mais presentes.

De acordo com uma pesquisa realizada em 2024 pela Fundação Getulio Vargas (FGV), cerca de 36% dos jovens entre 18 e 24 anos no Brasil afirmam já ter realizado apostas online ao menos uma vez, sendo que 12% desse grupo declarou apostar semanalmente. O levantamento também revela que a maioria dos usuários pertence às classes B e C, e que mais de 60% deles começou a apostar após ver propagandas em redes sociais ou influenciadores digitais.

Diante da expansão acelerada das apostas online no Brasil, especialmente entre os mais jovens, o tema deixa de ser apenas uma questão de entretenimento ou finanças. Passa a ocupar espaço nas discussões sobre saúde mental, educação e responsabilidade digital. Os dados, os relatos e os estudos apontam para a urgência de estratégias que envolvam informação, regulação e suporte psicológico.