Brechós reforçam moda sustentável e ampliam opções de consumo consciente em Ribeirão Preto

Popularização das lojas de segunda mão reflete mudança nos hábitos de consumo e reforça o crescimento da moda sustentável

Por Júlia Reginato

O crescimento dos brechós no Brasil reflete mudanças no consumo de moda, marcadas por maior busca por economia, variedade e alternativas sustentáveis. Segundo levantamento do Sebrae e da Abreb, o país reúne cerca de 118 mil brechós ativos, um aumento de 31% nos últimos cinco anos. O mercado deve movimentar R$ 24 bilhões em 2025, de acordo com a ThredUp Resale Report 2024, enquanto dados da Abvtex indicam que a presença de roupas seminovas nos guarda-roupas brasileiros passou de 12% para 20% no período recente.

Hoje, existem brechós de luxo, voltados a um público que busca exclusividade e qualidade com curadoria de peças de grife — como bolsas, sapatos e roupas de marcas renomadas — a preços mais acessíveis. E há também os brechós populares e comunitários, focados na moda acessível e no consumo consciente, que buscam democratizar o acesso à moda sustentável e incentivar o reuso como forma de responsabilidade social e ambiental. 

Para Mayara Bérgamo Biagiotti, professora do curso de moda no Senac Ribeirão Preto e consultora de imagem e estilo, stylist e figurinista, os brechós se tornaram laboratórios criativos, capazes de influenciar o design contemporâneo ao unir referências do passado e novas formas de expressão. Segundo Mayara, o reuso estimula autenticidade e dá origem a uma estética única, em contraste com o padrão repetitivo do fast fashion.

Para a docente, o crescimento desse mercado revela uma mudança na forma como as pessoas se relacionam com a moda. “Hoje, o público quer vestir algo que conte história e reflita sua identidade”, afirma. Esse movimento, segundo ela, reforça o valor da moda sustentável, que vem ganhando espaço tanto entre consumidores quanto na formação de novos profissionais, onde a sustentabilidade já é tratada como eixo fundamental.

Em Ribeirão Preto, o Solarium Brechó e Ateliê, comandado por Ana Carolina Patton e Isabella Andrade — que também fazem a curadoria das peças — é exemplo de como os brechós se reinventaram com a força das redes sociais. As sócias destacam que o Instagram se tornou uma das principais vitrines do negócio, permitindo divulgar peças e alcançar novos públicos.

“As redes sociais ajudaram a quebrar o estigma da roupa de segunda mão e tornaram o acesso muito mais rápido e prático”, afirma Ana Carolina.

Ela explica que, por meio de vídeos curtos, provadores virtuais e conteúdos educativos nas redes, os brechós vêm conquistando novos clientes e ajudando a derrubar preconceitos ligados à ideia de “roupa usada”.

A empresária afirma, ainda, que o aumento na procura por roupas usadas é evidente, impulsionado pelo desejo de unir estilo, economia e exclusividade. 

“As pessoas querem se vestir bem gastando menos e com mais personalidade, o que o fast fashion já não entrega”, aponta. De acordo com Ana, o diferencial do brechó está na curadoria cuidadosa e no atendimento personalizado, com foco em um estilo que mistura o vintage e o contemporâneo.

Para elas, a moda sustentável representa uma mudança de mentalidade duradoura. “A tendência é reduzir o consumo desenfreado e repensar nossos hábitos, tanto ambientais quanto de consumo”, disse Ana. 

Ela também destaca que, além do apelo estético e econômico, o consumo de segunda mão se conecta a uma mudança de mentalidade e, cada vez mais, o consumidor entende que comprar de forma consciente é um ato político e ambiental. A lógica do reuso, do reparo e da troca passa a ser vista não como limitação, mas como um novo tipo de luxo – o luxo de consumir com propósito.

Mayara avalia que o consumo consciente está redefinindo o futuro da moda no Brasil. Para ela, a moda de segunda mão deixou de ser um nicho e passou a representar uma nova estética — o chamado “vintage contemporâneo”, que combina memória, estilo e responsabilidade ambiental. Esse movimento, segundo a professora, aponta para um futuro mais ético e criativo na indústria da moda.

Ainda assim, ela destaca que o caminho para consolidar o consumo consciente no Brasil é desafiador, já que o fast fashion, marcado pela produção acelerada, preços baixos e tendências de rápida circulação, ainda domina o mercado.