Entre o expediente e o palco: como artistas de Ribeirão e região conciliam a arte, estudo e trabalho formal

Músicos da região equilibram jornadas formais com ensaios e shows para sustentar a carreira artística

Por Leonardo Quadros de Almeida

“Módulo Lunar”, “Gelatina de Concreto” e a recém-chegada à cena “Vetores/Sólidos” são bandas da cena musical autoral da cidade que vem ganhando força de 2020 para cá. Surgidas em meio ao caos pandêmico, enquanto seus integrantes conciliavam trabalho formal e faculdade e buscavam formas de se expressar, elas hoje enfrentam dificuldades para reunir o necessário à sobrevivência e à manutenção do sonho.

Atividades criativas estão sendo procuradas por 4 em cada 10 brasileiros que buscam mais qualidade de vida na rotina, de acordo com pesquisa do Datafolha. Apesar de muitas pessoas expressarem vontade de realizar produções artísticas e culturais, poucas têm realmente a oportunidade de seguir carreira ou até mesmo de manter o hobby.

Vitor Bernardes, criador da banda “Vetores/Sólidos”, também é estudante de Publicidade e realiza estágio como consultor de vendas. Ele fala sobre a dificuldade de conciliar todas as atividades: 

“Acaba sobrando pouco tempo para focar na produção criativa, porque chego em casa cansado da faculdade e do trabalho. Mas temos que seguir em frente com essas coisas e, todo momento que eu consigo, acabo pegando a guitarra ou o baixo para montar algo”, afirma.

A realidade de sobrevivência das bandas independentes também gera muito conteúdo e tema para composições. Pedro Toledo, da “Módulo Lunar”, explica o quanto o dia a dia atravessa vários momentos de seu processo criativo. Para o artista, situações do trabalho, notícias, conversas e filmes podem desencadear novas composições. 

Ele cita o exemplo da música “Vinte Vinte”, inspirada no momento turbulento da pandemia. A faixa faz parte do álbum “Irritante Paz”, que, para Pedro, funcionou como um exercício para traduzir o ponto de vista da banda sobre o período e sobre as questões emocionais que dele derivaram.

Já a banda “Gelatina de Concreto” lançou o EP “(antes era) terapia na terça” em 2024. Gabriel Kaça, vocalista e fundador, descreve o processo de produção como difícil, pois dois integrantes estavam na faculdade e outro, além de estudante, realizava estágio, o que competia com o tempo para o desenvolvimento das músicas. 

Para superar a dificuldade, ele adotou uma estratégia que considera essencial para a criação: tomar notas e registrar inspirações sempre que surgem, inclusive durante o trabalho.

As experiências desses artistas refletem a realidade de muitas outras bandas e pessoas que têm vontade de produzir arte, mas encontram dificuldade para seguir devido à rotina. Mesmo assim, apesar dos obstáculos, esses grupos seguem se mantendo pelo amor à criação.