Trabalhos artísticos e manuais podem melhorar saúde mental

Pessoas que praticam pintura, desenho, cerâmica e tricô costumam ser mais felizes e satisfeitas com a vida, de acordo com pesquisa da Universidade de Anglia Ruskin 

Por Joyce Victorelli 

Pesquisadores da Universidade Anglia Ruskin, no Reino Unido, afirmam que a criação e os trabalhos manuais impactam positivamente a vida das pessoas, deixando-as mais confortáveis, saudáveis, felizes e aumentando a satisfação. A pesquisa destaca pintura, desenho, cerâmica, tricô, costura e crochê como principais atividades para fortalecer o bem-estar.

Segundo o estudo publicado no Frontiers, pessoas que tiveram contato com alguma atividade artística ou artesanato nos últimos 12 meses expressavam mais satisfação com a vida, maior felicidade e a sensação de que a existência valia a pena. O engajamento nessas práticas se mostra um tratamento complementar de baixo custo, acessível e potencialmente eficaz para promover o bem-estar da população geral.

Depois da pandemia da COVID-19, a saúde mental ganhou espaço em diversos cenários, não só no Brasil, mas também em outros países. Segundo um resumo científico divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2022, apenas no primeiro ano da pandemia o número de pessoas diagnosticadas com ansiedade e depressão aumentou em 25% em todo o mundo. Isso ocorreu devido ao isolamento, perda de entes queridos e medo de infecção. Em sua maioria, jovens e mulheres foram os grupos mais afetados pelo lockdown.

De acordo com pesquisa de doutorado da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), trabalhos realizados com fios, como crochê e tricô, estão relacionados a sensações de alegria, prazer, paciência, amor e relaxamento. Ainda segundo o estudo, praticantes desse tipo de artesanato apresentam elevados níveis de qualidade de vida e estado mental positivo, associado à sensação de satisfação e foco na atividade.

Sarah Fonseca, estudante de 18 anos, foi diagnosticada com transtornos psicológicos como ansiedade, transtorno alimentar e bruxismo ainda na adolescência. Ela buscou o crochê por recomendação de sua psicóloga, como forma de terapia.

“Em 2022 fui diagnosticada com transtorno alimentar, ansiedade e bruxismo enquanto eu dormia […] A minha psicóloga falou sobre a arteterapia, que era algo que ajudava muito a ocupar a cabeça. E eu lembrei de quando eu fazia crochê. […] No momento em que peguei a agulha, eu lembrei de tudo e de como eu fazia”.

Ela expressa satisfação em ter retomado o crochê e diz ter visto melhora significativa após voltar à prática. “Ver aquele processo da linha se transformar na bolinha, a bolinha se transformar numa cabeça… Eu me sentia suficiente e vi que conseguia fazer alguma coisa, eu me sentia capaz de algo, né? […] E, sem perceber, eu já estava feliz sozinha”, relata.

A arteterapia, outro tipo de tratamento, também pode ser recomendada por profissionais como psicólogos. O método usa diferentes formas de expressão artística para fins terapêuticos em vários contextos, expandindo a terapia para além do consultório. Seu principal objetivo é exercitar a criatividade e promover autoconhecimento.

As atividades manuais se relacionam de forma positiva com o paciente, pois permitem o acesso ao mundo interno de cada um e favorecem a expressão de emoções, sentimentos e pensamentos.

Segundo Ana Gessica Luiz, professora de educação infantil e terapeuta parental, descansar a mente é essencial para que emoções desordenadas, como tristeza, ansiedade e frustrações, não se transformem em transtornos mais graves.

“O descanso não é somente físico, não é apenas ficar deitado ou sem fazer nada. Para descansarmos plenamente, é preciso descansar o corpo, a mente e o coração, e aí chegamos na arteterapia. […] Na arteterapia, são atividades que não vão descansar apenas fisicamente. O descanso mental e o descanso criativo fazem com que a pessoa descanse verdadeiramente e, estando descansada, os sintomas de ansiedade e tristeza são eliminados”, afirma.