Por Ana Clara Rocha, Ana Luísa Rosário e Vitória Andrade
As vozes da Itália se fazem presentes em Ribeirão Preto por meio da cultura, da comida, da música, dos espaços italianos, mas principalmente, por meio das pessoas. Entre os anos 1893 e 1923, chegaram à cidade cerca de 70 mil imigrantes, sendo 70% deles vindos do centro-sul europeu.
Saindo do Porto de Gênova para um recomeço em terras desconhecidas, fevereiro de 2024 marcou os 150 anos da imigração italiana no Brasil. Os nativos que enfrentavam guerra, fome e desemprego viram nas Américas a esperança de uma nova oportunidade de vida – motivada pelo governo brasileiro, que buscava mão de obra qualificada para as fazendas de café.
De acordo com o historiador e professor do Centro Universitário Barão de Mauá, Rodrigo Calsani, uma das cidades que receberam esses imigrantes foi Ribeirão Preto. “Na segunda metade do século XIX, a Itália passava por processos revolucionários de unificação e de guerras. Na mesma época, o Brasil estava em busca de mão de obra capacitada e assalariada para o cultivo do café, principalmente no estado de São Paulo e, dessa forma, os italianos enxergaram Ribeirão Preto como uma possibilidade de melhoria de vida”, explica.
A Itália encontra-se na cidade principalmente em três bairros, sendo eles: Ipiranga e Campos Elíseos, na zona Norte, e a Vila Tibério, na zona Oeste. Como resultado disso, a cultura italiana começou a se fazer presente em Ribeirão. “Eles foram desenvolvendo sua cultura nesses bairros, em festas, em religiosidade católica muito forte, então eles trouxeram um pouco dessa Itália para a nossa região, que permanece até hoje”, relata Calsani.
É possível ver raízes italianas difundidas no cotidiano do ribeirão-pretano, motivadas pelas famílias. “Os italianos passavam sua cultura de geração a geração, é um legado que deixaram pela família e eles levam isso muito a sério. Então, por meio de festas gastronômicas e bingos em igrejas, por exemplo, eles iam eternizando a cultura italiana em solo brasileiro”, comenta professor.
Vozes Italianas
As vozes italianas são vistas nas ruas de Ribeirão Preto ocupando espaços entre meios culturais e gastronômicos. “O que a gente enxerga é que o município percebe essa influência italiana nos costumes. E daí, por que não um atrativo turístico, um atrativo gastronômico? É uma maneira de você modernizar, mas ainda continua levando para as pessoas aquela raiz italiana na dança, no teatro, na música, na comida e, claro, a bebida. O vinho não pode faltar em uma mesa italiana”, explica Calsani.
Buscando entender mais sobre a presença da arte italiana em Ribeirão Preto, convidamos uma entusiasta do cinema italiano para falar sobre o projeto “Cine Memória Itália”, realizado pela Casa da Memória Italiana, museu tradicional da cidade. Confira o vídeo a seguir:
A música na cidade é celebrada e mantida viva pelo Coro Memorie d’Italia, que realiza em dezembro os tradicionais espetáculos natalinos com canções clássicas, também na Casa da Memória Italiana. As apresentações são ministradas pelo regente do coro, Alexandre Mazzer Pérticarrari.
“O coro era um grupo de pessoas que frequentavam a Cantina Piatto e, com o tempo, eles foram se organizando e montando um repertório. Esses italianos, falando italiano, acabaram se comunicando, se entrosando aqui no Brasil, mas cantavam! Cantavam a canção italiana, essas histórias de amor, canções que lembravam a partida, a despedida da terra natal, e a gente conserva as memórias dessas famílias”, relembra o maestro.
Aspectos como gastronomia, audiovisual e preservação da cultura são pontos importantes para a permanência da cultura italiana na população ribeirão-pretana. E para encontrar locais onde você pode manter viva essas tradições, confira o infográfico que traz lugares italianos em Ribeirão Preto:
Cidadania Italiana
Após a imigração italiana no Brasil, os descentes buscam na cidadania italiana uma chance de um recomeço na Europa. “A busca pela cidadania italiana em Ribeirão Preto é mais recente se você comparar com o processo da imigração. O italiano veio para cá em busca de uma vida melhor e hoje a gente vê o processo reverso, o descendente de italiano querendo ir para a Europa, para a Itália, em busca de uma vida melhor, em busca de salário melhor”, explica o docente.
Calsani lembra a grande procura pela cidadania italiana e quais as motivações para a retirada do documento imigratório. “Esse processo está começando a ter um outro caminho, talvez pela condição do próprio país. Às vezes, as pessoas não têm uma condição de colocação profissional ou até vivem a desigualdade social. Então, a Europa surge como uma possibilidade de ter uma vida melhor. Por isso, muita gente busca essa cidadania, não só para retornar às suas origens, suas raízes, mas também para conseguir uma vida melhor, se comparado ao que vive no Brasil”, finaliza Calsani.
Ouça o podcast com a Laís Bernal, descendente de italianos e que estudou na Itália: